Eu lembro quando eu li as primeiras DCs sobre Drakon e também sobre como o cenário original tinha uma vibe "Bem Vs Mal". Os demônios eram maus, os deuses eram bons e a humanidade estava livre para escolher um lado na guerrra.
Porém, pelo que eu entendi, na 3° Edição decidiram abandonar essa ideia e ir para uma vibe mais "Caos Vs Ordem". Com demonios agora sendo consideradas "criaturas caóticas" e etc... Eu não gostei muito dessa decisão e aqui vão os meus motivos:
1) Não faz muito sentido
Essa visão de que os deuses não necessariamente são bons ou de que os demônios não necessariamente são maus não faz muito sentido, principalmente porque os deuses parecem bem de boa e enquanto que os demonios parecem um bando de psicopatas. Eu consigo imaginar um Lorde Demônio escravisando um reino, mas eu duvido que Taranis (um dos tais deuses ordeiros) faria o mesmo.
Tipo, não é essa toda a discussão entre ordem e caos? O lado bom da ordem é a paz, o lado mal e a tirania. O lado bom do caos é a liberdade, o lado mal é uma completa anarquia onde os fracos não tem vez. O problema é que até agora os deuses só representam aspectos positivos de ambos os conceitos, com Taranis sendo o aspecto positivo do caos. Faz parecer até que todos os deuses são bons, mas que alguns são ordeiros e outros são caóticos. Enquanto que os demonios são todos maus, porém com alguns ordeiros e outros caóticos.
2) Nem é tão original assim
Ok, vamos com calma. Não se irrite. Meu ponto é só que algumas pessoas assumem que mundos baseados em "Bem Vs Mal" são automaticamente simples e superficiais, enquanto que o conceito de "Ordem Vs Caos" é muito mais original. O problema é que 75% dos cenários de fantasia medival já seguem essa história de "Ordem Vs Caos", alguns melhores do que outros, então só isso não é o suficiente para fazer ser algo profundo ou interessante. Segundo que o conceito de "Bem Vs Mal" pode ser MUITO interessante de ser explorado também, afinal, não é porque definimos que existe um certo e um errado que tornamos qual é qual fácil de dicernir. Como na DC dizia, os humanos foram livres para escolher um lado nessa guerra, logo, não é porque existem escolhas certas, que essas escolhas serão tomadas. Fazer o bem é extremamente difícil e as vezes um ato maligno pode ter consequencias positivas, então colocar essas duas ideologias em choque pode sim ser algo muito interessante de se fazer.
Enfim, essa é a minha opinião sobre o assunto - opinião que pode muito bem estar completamente errada e isso eu reconheço. Não quero ofender ninguém, apenas para dar a minha opinião e fazer uma críticas da maneira mais construtiva possível. Estou disposto a ouvir a opinião de vocês, então não hesitem em compartilhar-la. Em nenhum momento eu ataquei a algum individuo, apenas ideias e conceitos, então espero que a mesma cortesia seja estendida a mim.
Essa é uma discussão extremamente interessante na verdade, Sentoki, e nós pretendemos fazer um - talvez mais - Mighty Casts falando sobre o assunto.
A questão é mais ou menos como tu apresenta: Nós abandonamos a idéia de Bem vs Mal por uma idéia mais de Ordem vs Caos. Tudo começou de forma mais ou menos inocente, quando estávamos revisando as Classes pra DC #11, onde apareceu a versão 2.75 do sistema, que deu origem à 3e. O problema ali era Aura Divina, que dizia que o Pasladino perdia os poderes se fizesse algo injusto. O que causava um problema sério, porque, afinal, qual a definição de Justiça? Justiça divina? ?Justiça dos Homens? Cada Paladino decide...? Isso causou uma série de discussões nas mesas de playteste, e eventualmente a questão do que era considerado bem e mal veio à tona - porque nós pensamos em trocar fazer Justiça por fazer o Bem.
Bom, a discussão acabou evoluíndo, porque começamos à olhar pros outros Reinos e culturas fora de Tebryn e pensando "ok, então Paladinos não existem em Arkania porque lá a Justiça ou o Bem são diferentes de Tebryn?" Foi o que acabou criando a variação do Paladino que existe na 3e. Ele não tem ligação com as divindades, mas sim com códigos de conduta extremamente fortes que fazem com que ele acabe recebendo poderes especiais. Essencialmente, ele ganha poderes através da própria crença em seus ideais. Isso resolvia o problema do conceito de Justiça ou Bem com relação ao Paladino, porque agora ele não tinha que lidar com uma definição externa: Cada Paladino pode decidir, em termos, o que ele considera como bom, justo e por ai afora.
Isso não resolvia o problema de Bem, Mal e Justiça no cenário como um todo, então nós decidimos resolver o problema simplesmente ignorando ele. Assim, não utilizamos termos como Bem e Mal nos livros, exceto em situações muito específicas, ao invés de formas mais conceituais. Preferimos nos manter no eixo Caos e Ordem porque, dentro desses eixos, fica mais simples de trabalhar - principalmente porque o MB é voltado pra iniciantes, e muitos deles são jovens, e ainda não tiveram contato com filosofia pra fundamentar uma discussão sobre moralidade. Digamos que ao invés de enfrentar o problema, o que exigiria muitas explicações imateriais pra um livros de regras básico, nós esquivamos a questão, e deixamos mais subentendido que Bem e Mal são subjetivos enquanto os Celestiais e Infernais seguem um padrão mais ligado à Caos e Ordem.
E não, não é um conceito original. De forma alguma. Muitas obras utilizam essa idéia, tanto na literatura quanto no RPG. Não estamos tentando realmente reinventar a roda, mas sim deixando a carroça andar mais um pouco antes de verificarmos se os bois estão puxando ou empurrando o veículo. Dependendo de como forem as futuras discussões e livros que formos lançando, vamos decidir se precisamos mesmo explorar ou não esses conceitos dentro dos livros. Até lá, essas questões vão continuar vagas de propósito, pra que não apareçam com tanta frequencia nas mesas, e quando aparecerem, os Mestres tenham liberdade para interpretar cada situação como preferirem de acordo com seu grupo.
E Taranis não tem nada de caótico. Ele é uma divindade da Liberdade. Individualidade e liberdade não são conceitos ligados ao Caos. E se ele - ou um de seus seguideres - decidissem tiranizar um grupo de alguma forma, ele estaria literalmente indo contra o que prega. Agora, para um seguidor de Mirah, ou de Hadorn, tirania pode, sim, ser uma alternativa. Afinal, seus dogmas nada dizem sobre quanta força pode (ou deve) ser utilizada para impor a Justiça, a Lei e a Ordem sobre o mundo. Muito é dito sobre a forma como o governo de Ektoria governa com mão de ferro e mantém uma vigilia extremamente rígida com suas fronteiras, não apenas com os territórios estrangeiros mas com os outros condados com os quais faz fronteira, por exemplo. A liberdade no Condado é regulada, e dentro da cidade de Ektória, ha uma permanente tensão no ar, particularmente quando Paladinos da Hoste de Hadorn estão por perto...
Enfim. Esses conceitos serão tratados em algum momento do futuro em um Mighty Cast, e talvez eventualmente nós façamos observações sobre o assunto dentro dos livros. Por enquanto, as poucas informações sobre essas questões estão propositadamente vagas para que possamos amadurecer as idéias que apresentaremos em futuros suplementos.
Eu sei que usar esse exemplo aqui é pedir pra cortarem minha cabeça, mas lá vai:
Tecnicamente, poderiamos classificar as entidades de MB dentro dos alinhamentos de D&D: A Tríade Divina e compania entrariam no eixo Leal/Bom e Leal/Neutro, os Dragões entrariam no Leal/Mal, os demônios entrariam no Neutro/Mal, Cáotico/Neutro e Caótico/Mal
Ai teriam umas entidadezinhas menores pra preencher as lacunas na tabela geral dos 9 Alinhamentos. MAS COMO EU DISSE, é só tecnicamente...não estou impondo a hegemonia de D&D nesse lugar independente e de livre opinião, é só uma sugestão
(Por favor, não me matem)
Cara, agora que você explicou, eu entendi a decisão, afinal, seria complicado limitar um classe inteira a apenas alguns reinos e culturas. Sem falar que isso é um jogo e deixar ele mais "prático" é sempre um ponto positivo.
Agora não entendi direito a sua definição de caos. Eu estou acostumado a RPGs que colocam Ordem e Caos como duas forças a serem balanceados, ambas possuindo pontos positivos e negativo, mas se liberdade e individualismo não são ligados ao Caos, o que é? O que redime o Caos no Mighty Blade? Ou será que a ideia de Ordem e Caos estão mais ligadas à "ordem natural das coisas"? Como por exemplo, a necromancia sendo considerada caótica por quebrar o ciclo da vida e etc...
Ok, vamos por partes: Eu entendi a colocação, Sin of Greed, e não vou mandar um grupo de Paladinos da Hoste de Hadorn esmagar a tua casa por essa "insolência". Isso dito, eu acho que o sistema de Alinhamento do D&D, apesar de oferecer uma ferramenta mecânica válida, simplifica demais as coisas e cria uma série de problemas e loopholes que podem literalmente destruir uma mesa - eu já experimentei isso mais de uma vez, particularmente jogando com gente mais velha. Devido à isso, detesto essa mecânica e gostaria que ela fosse totalmente apagada da história do RPG porque ela segue reaparecendo e super-simplificando várias discussões interessantes.
Com relação à Caos e Ordem dentro do MB, Sentoki, a coisa é um tanto mais complicada do que simplesmente ter "duas forças se contrabalanceando". Primeiro que temos que definir o que é Caos e o que é Ordem, e essa discussão por sí só precisa de muito mais texto do que eu estou disposto à escrever aqui - e nem sei se algum dia terei paciência pra detalhar em um livro, honestamente... Simplificando a coisa ao máximo, Ordem está ligada à manter uma coletividade onde (de modo mais ou menos igualitário) há trabalho, fruição e liberdade de modo igual. Isso, é claro, causa alguns problemas porque considera que a coletividade tem os mesmos valores, ideais, aspirações e desejos. O que, obviamente, não é verdade. O outro problema é que essa noção pune ao extremo o individualismo - comportamentos aberrantes precisam ser suprimidos para que a unidade seja mantida, o que leva à uma série de leis que banem certos atos, o que faz com que alguns indivíduos fiquem descontentes. E alguns indivíduos terão aspirações e idéias diferentes da coletividade, e isso pode torna-los extremamente miseráveis ou afortunados, dependendo de suas ações. E como a tal coletividade é formada por indivíduos, bom.... O problema tende à se tornar muito relevante. Assim, a Ordem se contenta em manter os indíduos relativamente contentes dentro de comportamentos relativamente aceitáveis, para que a coletividade como um todo não imploda e haja um bem estar geral razoável.
Caos, por sua vez, é o principio pelo qual toda e qualquer pequena mudança pode causar consequencias enormes - e desconhecidas - no futuro. Esse principio, portanto, assume que os indivíduos devem ser livres para perseguir suas ambições e paixões de modo absoluto, porque essa é a única maneira de permitir que hajam mudanças significativas no paradigma da coletividade. O problema do Caos é que, com cada indivíduo perseguindo suas próprias ambições, não há espaço para pensar nos objetivos dos outros indivíduos, já que cada indivíduo vai explorar os recursos dos outros por considerar que seus próprios desejos são mais relevantes. Isso cria um ambiente extremamente competitivo e isso leva à uma completa e total falta de empatia que pode levar à aniquilação de vários indivíduos enquanto um deles consegue levar à cabo suas ambições. Claro, o Caos pode ser gerenciado com indivíduos adiando seus próprios propósitos enquanto ajudam outros indivíduos à se desenvolverem - em geral para que esses indivíduos possam, no futuro, servir melhor às suas necessidades - mas na maior parte das vezes, vai levar à cenários em que o mais apto lidera um grupo de indivíduos mais fracos em direção à um objetivo próprio, com os seus subordinados se contentando com o sucesso do lider - até, claro, se tornarem eles próprios poderosos o suficiente para criar seu próprio grupo de seguidres, seja se separando do lider anterior ou depondo-o.
O primeiro sistema é preferido pelos Celestiais, que sempre olham pela Coletividade no lugar da Individualidade, enquanto o segundo é o principio pelo qual os Infernais operam.
Enfim, é uma super-simplificação, mas espero que torne a coisa toda mais clara.
Ah, então é uma parada menos "politica" e mais "pessoal".
Por exemplo, um cara ordeiro poderia ser tanto coletivista (colocando o bem estar do grupo acima do individuo), quanto individualista (acreditando que a liberdade individual nunca deveria ser sacrifica pelo famigerado "bem maior"). Com o coletivista ordeiro estando preparado para sacrificar a sua própria liberdade pelo grupo e o individualista ordeiro estando preparado para respeitar a liberdade dos outros;
Enquanto isso, um cara Caótico não leva nem o bem estar do grupo e nem do individuo em consideração, já que a única pessoa com que ele se importa é ele mesmo, logo, ele preferiria viver em uma sociedade livre, mas não teria problema algum em governar uma sociedade tirânica.
Pô, bem maneiro. Tipo, nenhum dos dois necessariamente é bom ou mal - ficando pra interpretação. Do mesmo jeito que um seguidor de Hardorn poderia forçar as pessoas a servir no exército se ele considerasse que isso fosse necessário, um seguidor de Taranis poderia se recusar a utilizar de força contra uma pessoa que está prejudicando uma comunidade através de suas ações. E não é porque um individuo caótico está fazendo algo por benefício próprio, que suas ações não podem acabar ajudando alguém.
Bem maneiro. Eu faria diferente, mas achei bem satisfatório e tanto simples quanto com potencial para se aprofundar mais se necessário.
Você precisa estar logado para comentar.